quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Os jovens moravianos

UMA HISTÓRIA DE AMOR A DEUS

Iniciado em Hernhut, Alemanha no século 18, o movimento de oração continua (24 horas) chamado Moravianos durou por quase 100 anos, e eles não oravam por aquilo que não estavam dispostos a ser a resposta.

Dois jovens Moravianos, de 20 anos ouviram sobre uma ilha no Leste da Índia cujo dono era um Britânico agricultor e ateu, este tinha tomado das florestas da África mais de 2000 pessoas e feito delas seus escravos, essas pessoas iriam viver e morrer sem nunca ouvirem falar de Cristo.
Esses jovens fizeram contato com o dono da ilha e perguntaram se poderiam ir para lá como missionários, a resposta do dono foi imediata: " Nenhum pregador e nenhum clérico chegaria a essa ilha para falar sobre essa coisa sem sentido".

Então eles voltaram a orar e fizeram uma nova proposta: "E se fossemos a sua ilha como seus escravos para sempre?", o homem disse que aceitaria, mas não pagaria nem mesmo o transporte deles. Então os jovens usaram o valor de sua propria venda para custiar sua viagem.

No dia que estavam no porto se despedindo do grupo de oração e de suas familias o choro de todos era intenso, pois sabiam que nunca mais veriam aqueles irmãos tão queridos, quando o navio tomou certa distância eles dois se abraçaram e gritaram suas ultimas palavras que foram ouvidas:

"QUE O CORDEIRO QUE FOI IMOLADO RECEBA A RECOMPENSA DO SEU SOFRIMENTO".

Estou convencido que não devo orar se não estou disposto a ser resposta pelo o que estou orando.
"... Deus é poderoso pra fazer muito mais.... de acordo com Seu poder que opera em nós" (Ef. 3:20)

Author: Matheus - Fonte: Voltemos ao Evangelho

Por acaso Deus deixou alguma coisa escrita?

Dia desses, meu filho me perguntou se Deus havia escrito alguma coisa. Enquanto tentava lhe explicar, me veio um insight: só encontramos três escritas feitas diretamente pela mão de Deus: nas tábuas da Lei, na parede do palácio da Babilônia e na areia.

A primeira, escrita no Monte Sinai em tábuas de pedra, aponta para a inflexibilidade da Lei. Nelas Deus escreveu os dez mandamentos para nortear os homens na construção de uma sociedade justa.

A segunda, feita na parede do palácio real da Babilônia, à vista de todos os convidados do rei que se banqueteavam com os utensílios saqueados do Templo de Jerusalém, representa o Juízo de Deus sobre aqueles que são avaliados pela Lei. A segunda escrita pode representar o ministério dos profetas, cujo objetivo era o de denunciar a condição humana frente ao santo caráter de Deus, revelado na Lei. Perante ela, todos foram pesados e achados em falta. Portanto, estavam todos sob a condenação da Lei.

Mas a terceira escrita fora feita por Cristo na areia, enquanto uma mulher pega em flagrante adultério estava prestes a ser sumariamente executada por aqueles que a acusavam, estribados na Lei.

O que antes fora escrito em tábuas de pedra, agora foi escrito em nossos corações. Através da Cruz, a parede na qual estava escrita nossa condenação foi derrubada. E nossos pecados, escritos na areia, foram inteiramente apagados.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A Atitude Cristã e a Pós-modernidade

dos filhos de Issacar, conhecedores da época, para saberem o que Israel devia fazer, duzentos chefes e todos os seus irmãos sob suas ordens; de Zebulom, dos capazes para sair à guerra, providos com todas as armas de guerra, cinqüenta mil, destros para ordenar uma batalha com ânimo resoluto;
1 Cr 12:32-33



O maior desafio da igreja cristã em cada geração é se fazer entendida pelas pessoas de sua própria época. Esse fato é importante, pois nunca vamos conseguir falar de qualquer assunto, se não nos comunicarmos na linguagem cultural de nossa sociedade. Então, devemos ter o trabalho de pesquisar e entender o que se chama o “espírito da época”, ou as maneiras de pensar do homem atual, para que a mensagem chegue ao coração das pessoas.
Mas que tempo é esse que vivemos que temos que discernir o que devemos utilizar para a expansão do reino de Deus e também nos prevenir? De uma maneira geral, os filósofos o chamam de Idade Pós-moderna. Esse nome não quer dizer muita coisa, mas é justamente essa indefinição que caracteriza a pós-modernidade. A pós-modernidade é uma espécie de reação não planejada à modernidade ou e era moderna. A modernidade é caracterizada por alguns sonhos bem específicos. Primeiro a modernidade entronizava a razão como o principal meio de se obter conhecimento e tomar decisões, segundo ela rejeitava todo tipo de religião ou doutrina que tinha contato com algum ser transcendente que pudesse se revelar ao ser humano. Terceiro ela estabelecia as ciências naturais como o meio de aperfeiçoamento da humanidade. Isto quer dizer que através do domínio da natureza pelas leis naturais, a erradicação das doenças e a conseqüente eternização do homem, pela automatização do trabalho que faria o homem trabalhar muito menos e a erradicação do mal através de um mundo perfeito onde ninguém iria querer roubar ou matar seu semelhante, pois todos gozariam de um grande bem estar e felicidade eterna, o homem conseguiria construir o seu paraíso sem a apelar para a inadequação da religião.
Podemos ver claramente que esses objetivos da modernidade falharam miseravelmente. A natureza não foi domada, pelo contrário, cada vez mais a terra geme e se revolta contra o homem através de grandes cataclismos devido o impacto ambiental do progresso humano. As pragas não foram domadas pelo contrário existe o aparecimento de novas epidemias, além de bactérias multi-resistentes que estão custando muito para serem domadas. Em termos de trabalho, nunca o homem se esforçou tanto para trabalhar primeiro no aprimoramento e estudo e depois na carga horária e de stress que o trabalho contemporâneo produz, enchendo as salas dos psicólogos. Em termos de pobreza, dados de várias associações mostram no mundo uma maior concentração de renda com os ricos enquanto grandes populações não possuem o mínimo para sobreviver. Em termos de guerras, as duas guerras mundiais que aconteceram no século XX, quando a humanidade perdeu sua virgindade atômica fizeram cidades inteiras desaparecerem. Todo esse fracasso do ideal iluminista racionalista deixou o homem perplexo depois da 2ª guerra mundial. Nesse ponto, o homem moderno fica sem saída, pois não quer mais voltar para a religião mítica que rejeitou anteriormente, e nem quer continuar com o projeto falido que desvanecera nos escombros das guerras. Então a reação foi uma rejeição ao moderno sem saber direito para onde se estava indo. O resultado dessa reação reflexiva autônoma é a pós-modernidade, uma espécie rejeição aos ideais da modernidade, ainda que sem uma proposta concreta e elaborada.

Por isso foi dito que a modernidade tem a indefinição como característica, não porque adotasse conscientemente, mas por que vive nessa indefinição devido ao rápido colapso do pensamento dominante anterior.
Dentro dessa reação pós-moderna podemos localizar algumas posturas que procedem desse tipo de perfil, bem característico de quem ainda não achou o seu caminho após o trauma sofrido.
Primeiro é o remorso generalizado. O homem pós-moderno sofre de remorso por várias coisas que antes, ele julga, foi feito de maneira equivocada. O exemplo é a natureza, antes apenas era uma barreira para o progresso agora é quase adorada como uma deusa-mãe da humanidade. A tecnologia, outro exemplo, passou a ter um foco maior para o alívio das tensões humanas e para recompensar o esforço feito no trabalho produzindo status social. A tecnologia, portanto assume um papel mais imediatista e recompensador do esforço humano, do que uma porta mítica para um aperfeiçoamento da humanidade como foi anteriormente. O significado também sofreu sua metamorfose. Enquanto na modernidade a significação de um texto seria específica vinculada à mente do autor que escreve, na pós-modernidade esse significado já não pertence ao autor no momento que este o passa para o papel, mas se torna livre para que o leitor tire do texto aquilo que mais lhe convier. Com isso a definição de verdade e mentira se torna subjetiva, o que pode ser verdade para um pode não ser verdade para outro. Conseqüentemente a ausência de um padrão de verdade e mentira, também se reflete na estrutura do ser humano com relação a sua identidade pessoal. A busca do homem pelo significado de si mesmo perde o sentido, pois se perde referencia do que se deve ser. O resultado por sua vez é a crise existencial de quase todo homem pós-moderno, devido ao vazio de alvo para a sua trajetória. Em outras palavras a mistura explosiva de buscar um sentido para ser, aliado ao trabalho intenso para sobreviver, torna o homem alvo da ansiedade existencial, que o leva a uma depressão não apenas pessoal, mas também social. Resumindo é para um vazio cada vez maior de propósito que estamos indo.

igualA posição do homem na linha da história seria mais ou menos essa:
Olhando para o passado o homem não vê um propósito, pois eliminou a religião que lhe dizia que houve um Deus transcendente a esse mundo que criou o homem como um plano e desígnio definido.

Olhando para o futuro o homem se decepciona, pois a ciência que iria levá-lo ao paraíso terrestre só produziu o inferno das guerras e da destruição ambiental retirando uma expectativa de um mundo melhor.

O que sobra então para o homem? Resposta: O presente. Em outras palavras o homem precisa tirar do seu Hoje toda a sua expectativa de desejo satisfeito, significado e realização de uma vida inteira. A sobrecarga do presente leva o homem a uma insatisfação muito grande, pois não há imediatismo que consiga dar conta de toda a expectativa e esperança humana.
As reações, entretanto não param aí, ao sentir o vazio de propósito no seu interior o ser humano pós-moderno faz do entretenimento o alvo chave para seu querer. Desde a descontração com os amigos num bar, passando por uma viagem turística até aos esportes radicais em contato com a natureza, sempre se busca um prazer compensador para todo o contexto indefinido da pós-modernidade. Até a religião antes execrada pela modernidade volta à cena, não como era antes, mas como um dos instrumentos de alivio humano para o conflito interior de ser. Isto é, essa religião pós-moderna não precisa ter coerência nenhuma em seus pressupostos, mas apenas acolher o homem dando-lhe uma esperança, qualquer que seja. Como ela não exige coerência de visão ou de doutrina ela pode abusar para o misticismo irracional ou para o pragmatismo econômico sem cair em contradição, sendo que as religiões que possuem essas características são as mais procuradas pela população.

Agora que o palco da tragédia contemporânea está montado o que a Igreja de Cristo poderia fazer para testemunhar de Deus nesse período da história?
É interessante dizer que apesar dessa época ser confusa, não podemos nos enganar pensando que um evangelho sem precisão teológica ou bíblica será prontamente acolhido pelas pessoas. Também por outro lado não devemos rejeitar essa época pós-moderna como se fosse inteiramente maligna. Isto é fechando-se para o mundo com medo de se contaminar, blindando a igreja culturalmente e procurando desenvolver-se com uma cultura separada. Podemos ver pela história que a igreja vitoriosa é a que interage com o mundo de maneira sábia, isto é sem conformar-se com o mundo, mas também sem retirar-se do mundo. Esse equilíbrio às vezes não é muito fácil, mas é imprescindível para a vida da igreja. Podemos então dois aspectos de aonde a igreja deve se identificar e dois que ela deve repelir a pós-modernidade. Os aspectos que levam a identificação facilitarão o testemunho da igreja, e os aspectos que levam a separação blindarão a igreja da influência má deste século. Vamos ás duas características de identificação:

1 – A ênfase em relacionamentos
A falida modernidade era marcada pelo individualismo, quer dizer o homem moderno achava que não precisava de ninguém, que através de seu conhecimento ele seria perfeito. Por isso ela preferia ficar na presença de pessoas capazes como ele, que não fossem fracas ou ineptas. A pós-modernidade tem a característica de valorizar as ligações pessoais. O homem pós-moderno busca uma comunidade que ele possa se identificar e ser identificado. Isso em suma é ótimo para a igreja transmitir sua mensagem. Se as pessoas buscam sua identidade dentro de um grupo social a igreja pode ser este grupo perfeitamente. Para isso, entretanto é necessário receber as pessoas de maneira pessoal e não massificada. Isto é, o ser humano pós-moderno foge e tem fugido de se sentir mais um numa multidão. Ele quer sentir importante e marcante aonde ele se relaciona. Por isso a igreja pós-moderna precisa evitar fórmulas mágicas de agregar pessoas em bandos com tem sido feito constantemente. Esses planos de crescimento têm mais a ver com a modernidade em que o alvo coletivo era infinitamente mais importante que o valor pessoal. Um exemplo disso foi os milhões de pessoas anônimas que morreram nas guerras por causa de seus países e de seus alvos coletivos.
2 – A ênfase na variedade de formas e tendências
A uniformização de tudo que se fazia era uma das características principais da modernidade. Era o que se chamava de produção em série, isto é, o importante era uma forma básica que pudesse ser reproduzida várias vezes com menos custo e gasto de energia. Essa característica da modernidade levou o homem ao desespero da monotonia. Várias casas iguais no mesmo bairro, várias roupas iguais e de preço baixo, vários carros iguais saindo das fábricas, essa era a grande beleza e conquista moderna. Hoje sabemos que não é assim, as pessoas não querem mais o que é produzido para muitas pessoas usarem, mas o que é artesanalmente produzido. Hoje se escolhe a comida caseira, o detalhe feito mão nas roupas, o nome bordado ao invés do crachá. Essa variação de formas e tendências tem despertado o homem pós-moderno para sua singularidade, isto é, quando ele interage com o diferente. A igreja da mesma forma, se quiser alcançar o homem dessa era não pode se especializar nisso ou naquilo. Ela não pode buscar o seu desenvolvimento espiritual, ou seu crescimento numérico, ou sua evangelização formatando estratégias que por sua vez formatam pessoas que posteriormente formataram outros, essas estratégias baseadas no pensamento moderno de produzir muito com pouco esforço e com formas iguais separará a igreja do mundo (como tem feito) e da sua obra evangelizadora. Que estratégia usar para produzirmos convertidos aos montes? Que curso inventaremos para produzir líderes em toneladas? Que tipo de culto vamos fazer para que todos de uma vez recebam uma nova experiência com Deus? A resposta é nenhum! Isso por que a igreja não é uniforme, é multiforme ela não tem extremo, mas tem tendências, ela não possui dom, mas uma variedade deles. É nessa variedade é que a igreja acha a naturalmente e espontaneamente sua maneira de ser na sociedade.
Agora podemos citar as duas características que blindarão a igreja de influências malignas presentes nesse século:
1 – Rejeição ao desconstrucionismo da literatura.
Como foi mencionado acima uma das características mais específicas da pós-modernidade é interpretar os textos não pelo que o autor quer que signifique, mas pelo que o leitor quer que signifique para ele naquele momento. Essa tendência pós-moderna passou debaixo das portas das igrejas e escolas bíblicas como um nevoeiro e atingiu a maneira de como se deve interpretar a Bíblia. O significado das escrituras guardado no texto bíblico, que foi inspirado por Deus, e dado aos autores dos 66 livros da Bíblia parece que hoje não pesam no desejo de se conhecer a Deus intimamente e saber sua vontade. Hoje se alegando também uma inspiração do Espírito Santo tiramos os versículos e parágrafos de contexto e damos a eles um outro significado que o autor da escritura nunca sonhou em dar. Muitas vezes chamamos isso de atualizar a bíblia para o momento de hoje. Na verdade o que se está fazendo é justamente o que a pós-modernidade chama de desconstruir o texto, e o mais interessante é que essa idéia aparece na igreja justamente quando a humanidade teve a idéia de tratar o texto dessa maneira, seria isso uma coincidência ou uma contaminação e conformação desse século em nossas mentes cristãs? Podemos levantar dois argumentos básicos contra essa nova moda evangélica. O primeiro é se o Espírito Santo pode nos falar usando qualquer coisa e essa é a maneira regular que ele faz para nos edificar e transformar nosso caráter que sentido teria a inspiração da Bíblia? Por que homens lutaram e perderam sua vida para salvar a escritura inspirada e diferencia-la de outros livros que não eram inspirados? Se a principal maneira de Deus se comunicar conosco é usando qualquer texto ou qualquer fenômeno houve um grande desperdício na história da igreja para proteger a Bíblia dos que queriam queimá-la, dos heréticos que queriam pervertê-la e, além disso, não valeu de nada se arriscar para levar milhões de bíblias para países da antiga cortina de ferro e para o mundo mulçumano. Não! Existe uma diferença no que está escrito nas Escrituras e o que podemos receber por revelação pessoal e a escritura se torna uma base para julgamento de qualquer coisa que se chama de revelação pessoal hoje. Se não fosse não teria motivo o cânon inspirado ter sido fechado depois do Apocalipse. O segundo argumento seria uma contra argumentação a respeito do que seria atualizar a Bíblia ou a mensagem dela. Devemos ter em mente que a mensagem da Bíblia através de seus textos foi idealizada por Deus que habita a eternidade, isto é, Deus não é sujeito ao tempo. Então sua mensagem é também uma mensagem eterna para o homem de qualquer época, pois a eternidade é superior à temporalidade. Não é difícil observar, porém que essa mensagem eterna foi transmitida num momento histórico específico e, portanto para chegarmos ao âmago da mensagem e aproveita-la em toda a sua intensidade devemos levar em conta o tempo e o espaço que foi escrito, estudando-os para que possamos entender melhor a intenção do autor. Quando entendemos essa mensagem que nos é dada pela Bíblia, nós tocamos uma mensagem eterna que tem a autoridade do próprio Cristo e tem o mesmo poder de transformação.
2 – A rejeição da superficialidade e artificialidade nos relacionamentos.
Foi adito anteriormente que a falta de identidade e a vontade de se relacionar é um ponto positivo na era pós-moderna. No entanto podemos perceber um lado sombrio nesse comportamento. Essa vontade de se reunir para acabar com a solidão, não quer dizer que a pessoa deixou de ser egoísta. A comunidade se torna então um lugar para ele se sentir bem acompanhado, mas ela não perde seu senso forte de privacidade não se deixando conhecer por outros. Isso impede que o verdadeiro sentido de igreja se torne real. Todos os sítios sociais têm seus heróis e mitos, a igreja enquanto comunidade, social também idealiza muitas vezes seus perfis heróicos resultado de suas experiências como comunidade, entretanto não deve ser assim na igreja de Cristo. Ela deve acolher as pessoas como são para que elas se relacionem sem máscaras e possam na sua transparência produzir sua parte na comunidade, sem construir para si um comportamento tido como espiritual superior e evitar a produção de ídolos e cultos à personalidade para aqueles que aparentemente alcançaram tal padrão. Assim da mesma maneira a liderança deve assumir esse nível transparência para que aja uma referencia no rebanho também. E todos possam contribuir com o que são para a edificação da comunidade. Só quem é livre para se relacionar com seus dons e defeitos pode contribuir para uma edificação do corpo.
Resumindo a pós-modernidade veio trazer tanto coisas boas como ruins para o pensamento humano. Devemos saber discernir quais são nossas portas de acesso através dela para a evangelização e formação do caráter espiritual do cristão. Além disso, devemos nos precaver contra a batalha espiritual que este século também nos impõe para que possamos não nos conformar e sermos uma voz profética em nossa geração.

Lívio Bruno via Jocum-DF

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Já ouviu falar da Europa pós-cristã?

Há anos ouço o Pr. Gustavo falar sobre isso, mas eu nunca tinha conhecido ninguém que de fato tivesse esse tipo de pensamento. Até encontrar o Georg e a Elizabeth. O Fred e o Georg moraram na mesma república na Escócia e foi lá que o convite para conhecer o Brasil foi feito. E ele e a namorada vieram mesmo. Da Áustria para o Brasil.

Eles são católicos nominais, mas não acreditam muito na Bíblia. Para eles esse é um livro que não deve ser considerado literal e nem levado muito a sério. A cruz com certeza não é algo que de fato aconteceu. Seria cruel demais. Salvação? Para quê? De quê? Não existe inferno. Sim, Deus existe e Ele está em algum lugar distante no céu, porém eu sou o centro do meu mundo, e isso não é importante para o Todo Poderoso. No final das contas, cada um deve cuidar da sua vida, porque depois da morte todos se darão bem.

Os dois são pessoas incríveis, muito inteligentes e me impressionei com a eloquencia do Georg. Foi aí que ele me disse uma coisa que me fez pensar: "- Eu não suporto missionários". Juro que tentei controlar minha expressão, mas ele percebeu meu susto e começou se explicar. "- Eles não respeitam a minha opinião, Iana. E também não sabem conversar". Respeito: a palavra da vez.

Durante esse tempo que eles passaram conosco essa foi uma das coisas que mais aprendi. A respeitar. Não dá para ser intransigente. Não dá para querer "enfiar Jesus goela abaixo" das pessoas. Não dá para querer impor uma cultura de um dia para o outro. Tudo começa com respeito. Jesus é o maior exemplo de cavalheirismo. Ele não obriga ninguém a aceitá-lo, da mesma forma como Ele não rejeita ninguém. As pessoas precisam aprender a conversar. E é preciso se informar também, se interessar pelo universo do outro, sair das quatro paredes do "evangelho bitolado".

Nos dias em que estivemos com o Georg e a Elizabeth procurei mostrar quem é Jesus para mim. Tanto os levando para ver como é um culto protestante brasileiro, como em coisas simples do dia a dia. Uma noite fui ajudá-los a comprar pela net passagens aéreas. Eles tentaram várias vezes, mas não conseguiam. Aí eu brinquei: "- Vou falar aqui com Jesus e Ele vai me ajudar. Quer ver?". Eles riram e me lançaram um olhar com o maior descrédito do mundo. Orei rapidamente e fiz a mesma coisa que eles já tinham feito 7 vezes. Deu certo. Eles ficaram surpresos e não perdi a oportunidade: "- Tá vendo. O meu Deus liga para os detalhes. A viagem de vocês também é importante para Jesus. Ele é o cara!".

Passamos dias muito bons e eles voltaram para a Áustria. Nesse tempo buscamos oferecer a eles o nosso melhor, de todas as formas possíveis. Em nossos diálogos os escutamos e os valorizamos sempre, mostrando também, é claro, nosso ponto de vista. Eles já se foram e ficou a amizade, o carinho, a saudade, e é claro, o respeito.

Não existem fórmulas prontas e não somos sabedores de tudo. Então me lembro de Agostinho: Pregue, e se for preciso, use palavras. Talvez o problema esteja justamente aí. Estamos falando demais.

Fonte: Iana Coimbra - i-Relevante

Vivendo a Graca de Deus - Ariovaldo Ramos

domingo, 23 de agosto de 2009

Associção Wycliffe para Tradução da Bíblia

O trabalho dos tradutores da Bíblia.

Devemos sempre apoiar o trabalho de missoes e obreiros como estes.

"Portanto, devemos acolher esses irmãos, para nos tornarmos cooperadores da verdade." - 3 João 1:8

Parte 1

Parte 2

A aprendizagem de línguas por missionários – Marta Kerr Carriker

Tendo em vista o momento histórico em que vivemos, em que Deus tem chamado homens e mulheres em todo Brasil para levarem as boas novas do Reino a outras culturas, creio que seja oportuno considerarmos um dos elementos essenciais para atravessarmos as barreiras culturais que nos separam desses diversos grupos: a aprendizagem de língua em idade adulta. Porque é necessário aprendermos a língua do povo a quem queremos nos dirigir?
Cursos de missiologia, e principalmente de antropologia e missões, têm nos conscientizado da importância de apresentarmos o Evangelho de maneira relevante nas diversas culturas. Precisamos revelar às etnias não alcançadas o ato redentor de Cristo, a vida nova e eterna que nEle temos de maneira que possam compreender, e sem exigir que o comportamento resultante dessa revelação seja igual ao nosso, enquanto apenas um comportamento culturalmente definido como apropriado.
Ora, como saberemos quais comportamentos são relevantemente apropriados como conseqüência do evangelho sem uma longa exposicão à cultura e um entendimento profundo da visão de mundo do povo? Isso só pode ser conseguido se nos dispusermos a ouvir o que eles têm a dizer, o que implica em conhecer bem sua língua. Por isso, ao sairmos do Brasil, precisamos ir com uma atitude formada de que temos muito a aprender. É essencial que nos lembremos que Deus não somente ama o povo que deve ser alcançado, Ele já está presente em seu meio, pelo simples fato de ser onipresente, e que é exatamente por causa desse amor que Ele nos envia. Não somos nós que levamos Deus a um povo, Ele já está lá, e portanto é Deus que nos leva a eles. E esse mesmo Deus é quem vai nos capacitar a enfrentar a tarefa de aprendermos a língua e compreendermos a cultura desse povo de maneira a comunicarmos as boas novas de Seu amor por palavras e ações.

CAPACIDADE OU ESFORÇO

Todos nós somos capazes de aprender línguas e já provamos isso pelo simples fato de que falamos pelo menos uma língua. É comum a idéia de que crianças em todo o mundo, em condições normais, “aprendem a falar” em aproximadamente dois a três anos. Apesar de continuarem seu desenvolvimento linguístico até a adolescência, com uma média de dois a três anos já encantam seus pais e os que com eles convivem com sua capacidade de expressão. A maneira como esse processo de aquisição de língua se dá tem sido motivo de um longo debate entre lingüistas, mas o fato é que é impressionante a “facilidade” com que a maioria de nós aprendeu a se expressar quando criança. No entanto, quando chegamos à idade adulta e queremos aprender outra língua, a coisa parece não ser tão fácil. Horas de estudo, listas de palavras e regras gramaticais são memórias não tão agradáveis para muitos de nós. Mas, se fomos capazes de aprender nossa própria língua, o que aconteceu que temos tanta dificuldade de aprender outra? 


Decerto muita coisa! Em primeiro lugar, como adultos, nossas necessidades já são supridas, ou seja, se não aprendermos a outra língua e não mudarmos de ambiente, continuaremos a sobreviver perfeitamente. Em segundo lugar, nossa experiência de aprendizagem de segunda língua se limita na maioria das vezes à escola e suas exigências. Em outras palavras, nossa motivação que antes era a sobrevivência foi muito diminuída. E língua que antes era um meio para o relacionamento com outras pessoas foi reduzida a um objeto de estudo em sala de aula. Acontece que motivação é exatamente a coisa mais importante na aprendizagem de línguas e língua é muito mais do que uma “matéria de escola”! Língua é e sempre será o vínculo que nos liga em sociedade, uma ponte a outros seres humanos e suas idéias. Portanto não é a falta de capacidade que se evidencia quando temos dificuldades com uma segunda língua, e sim a falta de uma motivação que gere um esforço suficiente para que a aprendamos. Embora existam pessoas com maior aptidão para a aprendizagem de línguas, autores concordam que havendo motivação suficiente para nos relacionarmos com um grupo, isto determinará mais do que qualquer outro fator nosso sucesso ou não em aprendermos a sua língua.

APRENDENDO A OUVIR

A afirmação de que a motivação é o fator mais importante na aprendizagem de uma língua é encorajadora. O missionário que vai a outra cultura deve perceber logo a importância da língua como seu vínculo àquela sociedade, o que o deveria motivar o suficiente a aprendê-la. Porém, sem dúvida há outros fatores além da motivação envolvidos no processo. O primeiro fator que queremos mencionar é que precisamos re-aprender a ouvir. De acordo com Jean-Yvon Lanchec,[1] ao aprendermos a falar, perdemos um pouco a capacidade de ouvir. Nossos ouvidos ficam tão treinados a ouvir os tipos de som de nossa língua que não ouvimos bem os sons de outras línguas. Como exemplo, falantes do alemão ouvem bem os sons médios, mal os sons agudos enquanto que falantes do espanhol ouvem muito bem os sons graves e falantes do inglês ouvem bem os agudos. O sotaque em outras línguas nem sempre é uma falha na produção, quando uma pessoa está tentando falar um som que ouviu. Muitas vezes reflete a incapacidade de ouvir bem e diferenciar os sons. Como exemplo podemos citar que muitos brasileiros produzem o “think” (pensar) do inglês da mesma maneira que produzem “sink” (afundar), porque em português não temos o som do “th” dessa palavra do inglês. Como o que ouvimos parece com o “s” inicial das palavras em português, na hora de produzirmos, utilizamos o “s”. Se às vezes nem conseguimos ouvir que há uma diferença, como resolver esse impasse? Creio firmemente que duas coisas são essenciais: a consciência de que precisamos gastar muito mais tempo escutando atentamente e a ampliação da nossa percepção de sons diferentes. Precisamos reaprender a ouvir. Como adultos participantes de diálogos na nossa cultura gastamos muito tempo falando. 


Quando chegamos a outra cultura temos de passar um bom tempo calados, observando e aprendendo, o que é uma mudança de comportamento à que temos de nos adaptar. Para a ampliação de nossa percepção, deveríamos ser expostos à fonética internacional de modo sistematizado, o que é possível através de um curso de fonética. Isso não quer dizer que vamos todos nos tornar professores de fonética, mas sim que aprenderemos a ouvir as diferenças de modo a identificá-las nas outras línguas. Uma vez identificadas as diferenças, teremos de perceber quais dessas diferenças são importantes na língua que queremos aprender. Diferenças do tipo acima mencionado, “th” versus “s”, são importantes no inglês. Sabemos disto porque se produzirmos um ou outro som estaremos produzindo duas palavras completamente diferentes. Em linguística se diz que são dois fonemas diferentes. Outras diferenças que precisamos aprender a escutar são diferenças de ritmo e intonação. Somente depois de aprendermos a ouvir é que seremos capazes de conscientemente melhorar nossa produção desses sons. Cabe aqui uma observação interessante: existe uma idéia de que algumas pessoas têm maior facilidade para aprender línguas. Um bom ouvido para música às vezes é apontado como causa. Ora, o que é um bom ouvido para música? É a capacidade de reproduzir facilmente um som ouvido. 

Parece-me, portanto, que além de uma facilidade de escutar variações nos sons, é muito importante a habilidade de imitar sem inibições. Pessoas que “pegam” o sotaque dos outros demonstram um desejo subconsciente de serem parte de um grupo e de serem aceitas via identificação, fatores que sem dúvida contribuem muito para aprenderem das pessoas sua língua bem como sua cultura.

APRENDENDO A SER FLEXÍVEL

Como é de se imaginar, aprender a identificar “novos” sons e produzí-los exige uma maior flexibilidade de nosso aparelho fonador. Nada como tentar produzir os “r”s do alemão para se entender que o exercício é indispensável. Nossos hábitos articulatórios são difíceis de quebrar! Outra dificuldade criada pelo fato de já sabermos uma língua é que nos acostumamos a uma estrutura determinada na gramática e na morfologia. Em português, numa afirmação, colocamos o sujeito e depois o predicado,por exemplo—[artigo + substantivo],[verbo + artigo + substantivo]. Outras línguas têm colocações diferentes, gramáticas e morfologias diferentes. Se quisermos transformar nossa sentença acima em uma pergunta, em português basta mudarmos a intonação. Os que estudaram inglês na escola se lembram de que em inglês o normal é se usar um verbo auxiliar ou então inverter a ordem do verbo e substantivo, além da mudança de intonação (a seguir:). 


O menino chutou a bola (. ou ? , afirmação ou pergunta dependendo da intonação) The boy kicked the ball. (afirmação) Did the boy kick the ball? (pergunta feita usando-se um verbo auxiliar, cuja intonação também é diferente) Vemos aqui que um segundo fator na aprendizagem de uma língua é que precisamos desenvolver uma flexibilidade. O uso correto dessas colocações diferentes exige treino. E é aí que o missionário se lembra da escola e desanima diante da idéia de repetições enfadonhas. A Dra. Betty Sue Brewster, professora de Aprendizagem de Língua na Cultura na Escola de Missões do Seminário Fuller, na Califórnia, apresenta uma alternativa interessante aos que se encontram desencorajados diante dessa tarefa. Ela sugere que, além de um treino com um auxiliar, essas repetições sejam feitas com um gravador, o que possibilita o treino à qualquer hora. 

Também sugere que alguns exercícios sejam feitos na comunidade. Por exemplo, a pessoa sairia de casa com uma sentença e um grupo de palavras, escritas num papel. Ao encontrar as pessoas na rua, diria: “Estou aprendendo _________(língua) há ____dias. 

Tenho algumas palavras escritas nesse papel. Vou falar uma sentença. Por favor diga uma destas palavras e eu vou substituir na sentença. (Aqui a pessoa fala uma palavra e você substitui) Falei certo? Muito obrigado (a)!” *Traduzido e adaptado de LEARN, H-4, p. 126. Estas sentenças ( ou melhor dizendo, o equivalente a elas na cultura) seriam aprendidas de antemão de alguém que estaria auxiliando na aprendizagem da língua, e seriam praticadas com o auxílio do gravador. Já a estrutura da sentença seria treinada no contato com as pessoas, através da substituição da palavra no lugar certo da sentença. 

Sem dúvida pode ser uma opção bem mais embaraçosa socialmente, no sentido de que a comunidade vai conhecer os nossos erros, que muitas vezes vão parecer engraçados. 

Mas, por outro lado, o envolvimento com pessoas raramente é monótono! Solucionaria o problema da monotonia das repetições, e assim proporcionaria um meio de se exercitar as novas estruturas para uma maior flexibilidade nesta área. Flexibilidade é portanto uma qualidade que precisamos possuir de maneira a expressarmos em estruturas diferentes e sons diferentes aquilo que queremos dizer.

APRENDENDO VALORES NOVOS

Se nossa tarefa se limitasse a conseguirmos os dois tipos de flexibilidade acima mencionados as coisas seriam bem mais fáceis. É que, voltando à idéia de que temos de comunicar de maneira relevante na cultura, precisamos também do tipo de flexibilidade que nos capacita a compreender os valores dessa cultura a que nos propomos ministrar. 


Temos de compreender o modo como essa língua é usada em sociedade. Alguns exemplos que vêm à mente são, em primeiro lugar, o uso de palavras com significado específico em certos contextos. Como ilustração, quando minha família começou a conhecer meu marido, que é americano, um dia nós o convidamos para assistir televisão. 

Lá pelas nove horas, ele disse que já ia embora. Minha mae, como boa brasileira disse: “É cedo!” Ele, não querendo quebrar nenhum costume desconhecido, ficou um pouco mais. A cena se repetiu até mais ou menos meia-noite, quando ele desconfiou que o significado da afirmacão era uma questão de educacão. É verdade que a estas alturas o “É cedo” deveria estar bem mais fraco. Outro exemplo é uma questão controvertida atualmente nos Estados Unidos. É a questão do uso de linguagem inclusiva. Existe, devido ao movimento feminista, um número crescente de mulheres que se ofendem pelo uso de palavras como “irmãos” para homens e mulheres. Por isso, mais pessoas têm usado “irmãos e irmãs” (ou até invertendo a ordem para “irmãs e irmãos”) nas igrejas de modo a não ofendê-las. No primeiro caso o missionário teria que aprender o uso de certas expressões de maneira a saber se comportar na sociedade. No exemplo acima, o risco de ofender alguém não seria tão grande. No segundo caso, o missonário precisaria compreender que se quisesse comunicar a um certo grupo, teria que usar palavras específicas, de modo a não ofender. Aprender a usar a língua no contexto social é indispensável à comunicação. Para isso, é necessário que tenhamos sempre a atitude de quem veio com dois objetivos: aprender e servir. Compreender como as pessoas se relacionam em sociedade e se submeter a essas regras de relacionamento não é tarefa fácil. O que é social geralmente é coercitivo e sem explicações. É assim porque é assim, produto de costumes e história que se misturam em processo cultural. Uma atitude de crítica ou de saudosismo é compreensível, já que geralmente somos socializados em nossa própria cultura de maneira absoluta, mas é também pouco produtiva, para não dizer destrutiva à comunicação, se justificarmos essa atitude e a deixarmos estabelecer raízes. 

Comunicar é se colocar em pé de igualdade, se colocar em comum, o que é impossível se concentrarmos nossas atenções nas diferenças entre as culturas, e na improbabilidade de nos adaptarmos às exigências de uma re-socialização.

MÉTODOS E ESTRATÉGIAS
O missionário é sem dúvida um privilegiado no que tange a aprender outra língua. Afinal não é qualquer um que pode ir morar onde se fala a língua que se quer aprender. Ele tem a oportunidade de conhecer a língua do dia a dia, no seu contexto próprio. Mas, quando se sabe que é necessário aprender uma língua, surge a pergunta: Como? As opções são várias: ir a uma escola antes de ir para o campo missionário, ir a uma escola no campo missionário, ir para as ruas com um gravador e arranjar alguém para ajudar, ter um professor particular, etc… Qual será a melhor estratégia? Minha opinião é que, uma vez preparado para aprender a língua o missionário deve se envolver logo na comunidade, procurando aprender o necessário para sua comunicação no dia a dia. Para isso pode utilizar a metodologia sugerida pelos Brewster, que mencionaremos a seguir. Porém, como esta preparação nem sempre é possível, o missionário deve decidir qual caminho o atrai mais. Uma pessoa que gosta de ler, gosta de estudar, gosta de escola, poderia procurar um curso recomendado e experimentá-lo. Existem algumas escolas especialmente preparadas para ensinar missionários e que foram estabelecidas exatamente porque os missionários tinham dificuldade de enfrentar a tarefa de aprendizagem de língua sozinhos. É o caso da Escola de Português e Orientação que funciona na JURATEL em Campinas. No entanto, se o objetivo de se aprender a língua é comunicar, qualquer curso deveria ser avaliado quanto sua eficácia em equipar o aluno para logo se relacionar à sociedade no seu dia a dia. O missionário deve se lembrar que estudar não é sinônimo de aprender, e que em questão de língua, a língua que se ensina em escolas é apenas parte e exemplo da língua usada em sociedade. Cabe-lhe portanto a tarefa de utilizar o que aprende na escola e ampliar em comunidade suas habilidades. Se ele puder aprender a língua antes de ir ao campo, terá que adaptar aquilo que aprendeu ao uso em sociedade no campo. Se começar os estudos depois de chegar ao local, terá que separar tempo para se envolver com a comunidade. Uma observação importante é que se vamos trabalhar com etnias não-alcançadas a probabilidade é maior de que não possamos aprender sua língua antes de estarmos em seu meio. É provável também que não haja um “curso,” de maneira que o missionário terá que procurar algum bilíngue que lhe sirva de “professor”, ou alguém que se disponha a ajudá-lo. Havendo ou não um curso ou uma pessoa que tenha alguma idéia sobre o que é necessário ensinar a um novato na cultura, o missionário deveria assumir a responsabilidade de descobrir o que precisa aprender. Esta tarefa foi empreendida por muitos missionários no passado e continua a ser realizada por missionários que sabem da importância de aprenderem bem a língua e por lingüístas de missões como a Wycliffe. Para a aprendizagem através do envolvimento com outras pessoas, seria aconselhável uma preparação, para que a pessoa aprenda uma metodologia e desenvolva uma disciplina. O método proposto em LAMP[2] dos Brewster aparece bem explicado em Português no capítulo 5 de Missiologia, livro de Larry Pate. Os Brewsters sugerem o uso de um auxiliar ou informante e um gravador, e um grande envolvimento com o povo desde o princípio. Estes autores colocam grande importância na posição de dependência do missionário de toda a comunidade para lhe ensinar a língua. Sua teoria é de que pessoas ajudam àqueles que têm uma necessidade, e que portanto se o missionário precisa aprender a língua e o demonstra, a atitude da comunidade lhe será favorável, o que não somente facilitará sua integração, como possibilitará logo de início oportunidade para o ministério. Minha curta experiência com esse método foi muito interessante. Para o curso que estava fazendo de aprendizagem na cultura escolhi aprender Tagalo, língua oficial das Filipinas, da comunidade que vive em Los Angeles. Em primeiro lugar, tive de arranjar uma auxiliar, o que foi fácil por causa da variedade de etnias presentes no seminário Fuller. Marita era uma graça! Quietinha, e sempre sorrindo, eu nunca teria desconfiado que seu pai e irmão tinham sido assassinados nos conflitos de seu país. Conhecê-la já foi excelente. Sua fé e sua disposição para servir me abençoaram. Com ela treinei as primeiras sentenças para comunicar na comunidade: Magandang umaga! (bom dia!) Kumusta ka? (como vai?) Gusto kong matuto ng Tagalo. (eu quero aprender Tagalo) Konti lang ang alan kong Tagalo (só sei um pouquinho de Tagalo) Salamat! (obrigada/o) Bye! (um tchau importado não sei de onde!) Gastei com Marita mais ou menos uma hora para conseguir o que queria comunicar. Depois tive que treinar com o gravador mais algumas horas para pronunciar direito as sentenças e por fim o teste: comunicar ou não nas ruas. Com dois filhos pequenos e um colega, cheguei ao centro de Los Angeles onde há um Centro Comunitário para imigrantes filipinos. Eu estava morrendo de medo e ao mesmo tempo querendo demais comunicar. Era uma grande aventura! Nem tudo deu certo! Já comecei errando a roupa. Vestida de jeans e camiseta sem manga, devo ter sido mal interpretada pelas pessoas daquela cultura conservadora. Um senhor mais velho, ao despedir-se de mim, me deu um beijinho na face. Eu quase caí de costas, mas como não conhecia a cultura, resolvi ignorar o acontecido. Continuei falando minhas sentenças, e quando voltei para casa estava pronta a aprender mais e voltar ao grupo para comunicar outra vez. Com o tempo, aprendi a me vestir para as visitas, pude dizer a algumas pessoas que era brasileira, crente, deixei de ser mal interpretada, pude observar aquela cultura, aquelas pessoas em seu dia a dia, e sinceramente apreciei muito o que vi e experimentei. 

Até hoje olho para os filipinos de maneira especial, porque senti a acolhida de alguns deles na cidade de Los Angeles. Gostaria ainda de sugerir que aqueles que vão trabalhar em um grupo que não possui sua língua na forma escrita ou que pretendem trabalhar na tradução da Bíblia passassem por um treinamento especial com o Summer Institute of Linguistics ou com a Associação Linguística Evangélica Missionária (ALEM) em Brasília.

QUAL LÍNGUA
Se até aqui tenho enfatizado a língua no contexto da comunidade deveria estar clara a conexão entre comunidade, língua e cultura. Para nos comunicarmos com um grupo de pessoas, uma comunidade, temos de conhecer sua cultura, através de sua língua. Estou repetindo este conceito porque muitas vezes surge a pergunta: Se vou a um país que tem como língua oficial o francês, por exemplo, deveria aprender francês ou um dos “dialetos” locais? Considerando o tipo de associação de língua oficial com a classe que a utiliza bem e com a lembrança que ela traz dos colonizadores que a trouxeram, deveríamos ser capazes de decidir se seu uso seria melhor ou pior. É provável que seja pior. De qualquer forma, se queremos comunicar verdades no nível afetivo, a melhor língua sempre é a língua materna. Em algumas situações, o conhecimento da língua oficial abriria portas ao aprendizado dos dialetos, porque seria mais fácil encontrar algum bilíngüe como auxiliar, mas se o missionário ainda não sabe a língua oficial, o ideal seria concentrar os seus esforços para aprender uma língua de cada vez, morando entre os falantes e participando de seu dia a dia. Uma outra observação sobre essa função da língua oficial como ponte aos dialetos é que em alguns casos se o missionário não souber a língua oficial, mas conhecer alguma outra língua mais usada em todo o mundo, por exemplo o inglês, poderá usá-la. Afinal, será bem mais fácil encontrar alguém que conheça uma dessas línguas e muito mais fácil ter uma língua para qual traduzir do que tentar aprender tudo por encenação e uso de objetos.

CONCLUINDO
Escrevi esse artigo com a intenção de despertar idéias sobre como podemos nos preparar para a aprendizagem de outra língua, tendo em mente as possibilidades apresentadas ao missionário transcultural. Muitas das idéias aqui expostas não são minhas próprias, mas de autores diversos, entre eles os Brewsters, Smalley, Hesselgrave, etc… Eu mesma sou missionária brasileira e bilíngüe, tendo que usar o português ou o inglês, dependendo do ambiente. Em termos de aprendizagem, nunca devemos nos contentar com o que pensamos saber de uma língua. Sempre há possibilidade de se melhorar. Sempre nos expressaremos melhor em uma ou outra língua, dependendo do assunto que tratamos e nossa dedicação a tentarmos compreendê-lo em determinada língua. Portanto, devemos sempre conservar nossa flexibilidade quanto a novos sons, novas estruturas e novas maneiras de se enxergar e interpretar o mundo, de modo a darmos o melhor de nós na comunicação do Evangelho a outras culturas.
Marta Kerr Carriker


NOTAS FINAIS [1] Psico-Linguística e Pedagogia das Línguas, Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1977. [2] Language Acquisition Made Practical, Pasadena, Lingua House, 1976. ————————– [i] Marta Carriker é missionária brasileira da Igreja Presbiteriana (EUA) desde 1979. Compõe músicas evangélicas brasileiras, e é professora de “Linguística e Aprendizagem de Línguas” para futuros missionários no Centro Evangélico de Missões.

9,5 Teses contra as indulgências do Neopentecostalismo



1. Não aceite bençãos, curas e milagres em troca de um "sacrifício" financeiro, seja ele de R$1,00 ou R$1.000,00... Cristo já fez o Sacrifício... conforme o cristianismo bíblico, todo o que se "sacrifica" ou paga penitência para conquistar algo em Deus, seja da forma que for, nega o sacrifício de Cristo na cruz. Cristianismo é descansar em Deus e não se sacrificar por Ele. Aquele que se sacrifica faz algo inútil e repulsivo aos olhos de Deus. (Oséias 6.6 / Hebreus 10.8)

2. Não existem objetos consagrados, óleos ungidos, orações fortes ou qualquer prática litúrgica que possa produzir um milagre. O cristianismo rejeita qualquer objeto ou forma visível para se chegar a Deus. O único caminho é a Fé em Cristo Jesus (que é o Caminho, a Verdade e a Vida), pois como diz a Bíblia: o justo viverá por Fé. (Romanos 1.17) Diz também: Ora a Fé é a certeza das coisas que não se vêem (Hebreus 11.1)... portanto, se você está vendo e nisso está sua certeza... isso não é Fé... isso não é cristianismo.

3. Não existem lugares santos para o cristianismo, nem Jerusalém, nem Israel, nem o monte Sinai, nem mesmo as igrejas (o mesmo serve para símbolos, sagrado somente o corpo, pois é Templo do Espírito Santo)... você não precisa ir a um lugar específico, enviar uma carta para uma fogueira em Israel ou para um morro na sua cidade... Deus não habita em lugares contruídos por mãos humanas. Igreja é sim, um lugar de reunião daqueles que servem, buscam e relacionam-se com Deus, não a Casa Dele, portanto, ninguém é obrigado a ir a uma igreja, mas na igreja você conhece aqueles que têm a mesma fé. (João 4.21-23 / Atos 7.48, 17.24)

4. Não acredite naqueles que afirmam ser sua igreja melhor que a outra... igreja não leva a Deus, religião alguma leva a Deus, pastor algum tem esse poder... o que leva a Salvação é o reconhecimento de que Deus é Deus, Cristo é seu filho e foi ressucitado por Ele... ser cristão é ser fiel a Deus e sua Palavra (Bíblia), não à instituições religiosas. (João 14.6)

5. Não acredite em pastores que podem "exigir" e "determinar" que Deus faça alguma coisa por você e que pedem algo em troca para fazer isso... Deus não obedece a homens. Deus ama o homem, não o explora. Nunca dê o que você não tem para dar... Cristo já deu a vida por você nada que você der poderá pagar isso.

6. Não é errado o dízimo nem a oferta, mas isso não pode servir de extorsão religiosa... o dízimo e a oferta devem ser voluntárias e para manutenção da igreja e dos necessitados (está na Bíblia e na Constituição Federal Brasileira, distorcer isso é crime e pecado)... se alguém dá oferta ou dízimo porque espera receber alguma coisa em troca é ignorante, pois conforme ensina o genuíno cristianismo, aquele que dá, dê sem nada esperar (o que tua mão direita der, a esquerda não veja)... o que assim não pensa, não conhece a Cristo nem a Bíblia... se algum pastor diz que você precisa ser "fiel" na oferta e no dízimo para que Deus seja "fiel" com você... é porque lhe nega a palavra que diz: o homem pode ser infiel, mas Deus permanece fiel pois não pode ir contra sua natureza. (2 Timóteo 2.13), a fidelidade de Deus não fundamenta-se num relacionamento de troca de favores, Deus o ama, independente de quem você é, como você é de quanto você tem.

7. Nenhum homem está livre de errar, inclusive os pastores, se algum pastor diz não ter pecados ou garante estar com ele toda a razão e que somente a ele Deus ouve... é mentiroso, a própria Bíblia o condena por tal atitude. (Romanos 3.23). A Palavra de Deus liberta o homem e não o aprisiona em doutrinas e ordenanças que de nada servem para aproximar o homem de Deus, mas sim, reduzí-lo a uma condição de escravidão a líderes que parecem ovelhas, mas que na verdade são lobos. Deus não se agrada daqueles que o temem seguindo apenas doutrinas humanas.... agrada-se daqueles que fazem a Sua vontade.

8. Uma pessoa não é abençoada porque é rica, é abençoada porque tem a Cristo... se algum pastor lhe promete riquezas sem fim e ainda utiliza-se de passagens bíblicas para isso... é mentiroso, vendedor da graça e maldito. O genuíno cristianismo NÃO promete riquezas nessa vida, mas sim, vida eterna e na glória do porvir. Se algum pastor só prega riquezas ele não serve a Deus, mas a Mamom*. (Mateus 6.24 / Marcos 10.23-24)*deus do dinheiro; daquele que ama o dinheiro.

9. Não acredite em pastores que dizem que se você for para a igreja dele você nunca mais terá problema, pois disse Jesus: No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, pois eu já venci o mundo. (João 16.33) Aceitar a Cristo não é garantia de que nada de mal vai lhe ocorrer, mas a garantia de que você tem a vida eterna, se algum cristão julga serem as coisas do mundo mais preciosas que a vida eterna não é cristão... é nada... pois ainda que fosse ateu haveria mais misericórida para ele, mas pelo contrário, diz crer em Deus e rejeita toda Sua glória incorruptível por uma glória corruptível e passageira.
0,5. Para não ser enganado por um vendedor, leia o contrato, Para não ser enganado por um "pastor", que não liga muito para as suas ovelhas, leia a Bíblia. (Mateus 22.29)

Daniel Clós Cesar

sábado, 22 de agosto de 2009

A Cruz de Cristo e a Espiritualidade Cristã

RICARDO BARBOSA

Tenho, nos últimos anos, refletido sobre a espiritualidade cristã. Minha preocupação está voltada para a apatia espiritual, a falta de integridade e coerência entre nossas convicções e a vida, a distância entre a teologia e a oração, e o chamado de Cristo para amar a Deus com a mente e o coração. Embora este tema tenha tomado outros rumos e provocado outros interesses, nem sempre fundamentados na Bíblia ou na longa tradição cristã, ele segue sendo um grande desafio para os cristãos do século 21. Para manter o foco numa espiritualidade cristã e bíblica, é preciso reconhecer a centralidade da cruz. A cruz de Cristo foi única no sentido de que representou uma escolha, um caminho que Jesus decidiu trilhar: o caminho da obediência ao Pai. A espiritualidade cristã requer obediência. Sabemos que no tempo de Jesus existiram muitas outras cruzes e muitos que foram crucificados nelas; alguns culpados, outros martirizados. No entanto, nenhuma delas pode ser comparada com a cruz de nosso Senhor em virtude daquilo que ela representou.Podemos considerar que a cruz de Cristo começa a ser carregada no episódio da tentação. Ali, o diabo propõe um caminho para Jesus ser o Messias. Um caminho que representou uma forma tentadora de ser o Messias. Transformar pedras em pães, saltar do alto do templo e ser amparado por anjos, e receber a autoridade política e financeira sobre os reinos e as nações. Se Jesus aceitasse a oferta do diabo, rapidamente teria uma multidão de admiradores, de gente faminta encontrando pão nas ruas e estradas, encantada com seu poder sobre os anjos e os seres celestiais e com seu governo mundial estabelecendo as novas regras políticas e econômicas. Seria o caminho mais rápido para implantar seu reino entre os homens.Porém, o caminho de Deus não era este. 

O reino que ele oferece precisa nascer primeiro dentro de cada um. As mudanças não acontecem de cima para baixo nem de fora para dentro. É um reino que vem como uma pequena semente e leva tempo para crescer. Não é imposto, é aceito. Não se estabelece pela força do poder, mas pelo coração e mente transformados. O rei deste reino não permanece assentado no seu trono, mas desce e se torna um servo. A cruz de Jesus não significou apenas o sofrimento final do seu ministério público. Ela representou uma escolha que o acompanhou por toda a sua vida e que culminou em seu sofrimento e morte. Quando Jesus nos chama para segui-lo, ele afirma que, se não tomarmos nossa cruz, não será possível ser seu discípulo. A razão para isto é clara. Se o caminho dele é o caminho do servo obediente, o nosso não pode ser diferente. Por isto, precisamos tomar nossa cruz, e ela deve representar também nossa escolha, que é a mesma que ele fez -- uma escolha pela renúncia e pela obediência ao Pai.O apóstolo Paulo entende o chamado de Jesus para tomar a cruz e segui-lo quando afirma: “Eu estou crucificado para o mundo e o mundo está crucificado para mim”. O caminho do mundo ensina: “Ame seus amigos e seja indiferente com os outros”. O caminho de Jesus diz: “Ame os inimigos e ore por eles”. No caminho do mundo ser o maior e o melhor é o mais importante. No caminho de Jesus o melhor é ser o menor e o servo de todos. Podemos achar que o caminho de Cristo é muito difícil, que amar os inimigos, orar pelos caluniadores, ser manso num mundo competitivo, humilde numa sociedade ambiciosa, não é só difícil -- é impossível. Concordo, por isto o chamado é para tomar a cruz. A cruz significa renúncia, sofrimento e morte.As opções estão diante de nós diariamente. Todos os dias somos levados ao monte da tentação. Todos os dias o diabo nos oferece suas ofertas e seu caminho, e Deus, pela sua palavra, nos revela seu caminho. Todos os dias temos de fazer nossas escolhas. Tomar nossa cruz é aceitar o caminho de Cristo, e neste caminho experimentamos uma espiritualidade verdadeira.

Fonte: Ricardo Barbosa via Pastor Paulo Cilas

A Centralidade da Cruz


“Na teologia histórica cristã a morte de Cristo é o ponto central da história; para aí todas as estradas do passado convergem; e daí saem todas as estradas do futuro.” – Stephen Neill
Para muitos, um símbolo de esperança, para outros, a morte. A cruz tem gerado sentimentos controversos, até mesmo para nós cristãos. O apóstolo Paulo diz que a “cruz é loucura para os que não crêem”. Ele referia-se aos gregos, que com o seu pensamento lógico e racional não poderiam admitir “… uma pessoa de mente sadia adorar como deus um homem morto, justamente condenado como criminoso e submetido à forma mais humilhante de execução? Essa combinação de morte, crime e vergonha colocava-o muito além do respeito, sem falar da adoração” (A Cruz de Cristo, John Stott). Ao mesmo tempo, os muçulmanos não aceitam o fato, pois para eles, ninguém pode expiar as culpas de outrem. A continuação do texto do apóstolo Paulo diz, “mas para nós é poder de Deus”.

O homem tem a necessidade de colocar a cruz no centro de sua vida. Quem quer ser discípulo deve tomar a sua cruz a cada dia e seguir Jesus, Ele mesmo disse.
Quando olhamos para a cruz, lembramos de nossa real condição espiritual. Quando olhamos para a cruz, vemos nossa condição miserável e a necessidade de salvação. A centralidade da cruz em nossas vidas nos dá condição de perceber a vontade de Deus para nós, e por conseqüência o cumprimento fiel desta vontade. Cristo quando foi para a cruz, na realidade já estava morto, não o seu físico, mas suas vontades. Ele não vivia para Ele, mas para o Pai. Muitos cristãos falam de boca cheia, “não vivo eu, mas Cristo vive em mim”. Essa declaração coloca a cruz de forma intrínseca na nossa alma. Declaro então que sou um morto vivo, condição melhor para mim, e não um vivo morto, meu estado carnal e distante de Deus.

No mesmo patamar, a Igreja deve centralizar a cruz em todas as suas atividades. A cruz é o símbolo de nossa fé. Foi através dela que o Senhor nos leva de volta ao Pai, resgata o homem e o liga novamente a Deus. Cristianismo difere de outras religiões pelo simples fato de o homem não precisar realizar nada para se aproximar de Deus e alcançar a salvação. Deus se encumbiu disso.Muitas igrejas têm deixado de lado a pregação da cruz, acham “forte” demais falar sobre condenação e morte, pecado… pode assustar seus membros.

Cito P.T. Forsyth, congregacionista inglês em seu livro “A crucialidade da cruz, 1909” – “Cristo é para nós o que é a cruz. Tudo o que Cristo foi no céu ou na Terra foi colocado no que Ele fez aí… Cristo, repito, é para nós justamente o que a cruz o é. A pessoa não pode compreender a Cristo até que compreenda a sua cruz.”

John Stott estuda profundamente a cruz de Cristo em seu livro homônimo, e declara porque a Igreja primitiva escolheu a cruz como símbolo. “Desejavam comemorar, como centro da compreensão que tinham de Jesus, não o seu nascimento nem a sua juventude, nem o seu ensino nem o seu serviço, nem a sua ressurreição nem o seu reino, nem a sua dádiva do Espírito, mas a sua morte e a sua crucificação”.
A centralidade da cruz na vida da Igreja e na nossa vida é compreensiva pelo simples fato da negação do nosso EU. A morte do Ego foi decretada na cruz, pois lá está o modelo de como devem agir os verdadeiros cristãos.

Relacionar-se com Deus passa pela cruz. Jesus declara ser o único caminho para o Pai e é na cruz que o véu rasga-se por inteiro, e o nosso acesso é liberado desde então. Há quem diga que o simbolismo da cruz passa a idéia do relacionamento Deus/homem e homem/homem, no braço vertical representa o acesso a Deus e no braço horizontal, o nosso relacionamento com nossos irmãos.

Não importa como você enxerga a cruz, importa sim, que devemos levar cada um a sua. Na versão da Linguagem de Hoje, a Bíblia diz ter a morte que eu vou ter. Jesus não fala aqui de morrer na cruz, todos nós crucificados, antes fala na realidade de deixar de lado nossas vontades, buscar a vontade do Pai, matar nossa carne e nosso Ego.

A centralidade da cruz traz a importância e coloca novamente em evidencia a teologia do Mediador, de um Cristo mediador entre Deus e os homens. Ele no centro, assim como curiosamente a sua cruz ficou ao centro, entre os dois ladrões.


Fonte: Nitrogenio

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Ronaldo Lidório fala sobre missões

Conselhos de um pastor no meio do caminho


Geralmente os conselhos vêem de quem já está no final da estrada da vida, procurando alertar e avisar aqueles que estão ainda começando. Isso vale também no ministério pastoral.

Mas não estou no fim da estrada. Ainda tenho muita lenha pra queimar, espero eu. Mas, nem por isso eu posso deixar de ajudar aquém está no começo, ou mesmo quem está em plena caminhada pastoral, mas que passou por experiências diferentes das minhas.

Sei que tem aquele ditado besta, se conselho fosse bom ninguém dava, vendia. Bom, nem preciso dizer que discordo disso, principalmente por esse ditado ser a cara de Edir Macedo, sujeito com quem não tenho nenhuma semelhança (a começar pela conta bancária). Portanto, vão aí alguns conselhos. Espero que sirvam pra você.

Pastorado é coisa séria. Nunca permita com que o chamado de Baal (leia-se money) se torne tão alto que obscureça o chamado de Javé. É verdade que dinheiro é importante, especialmente em um mundo capitalista como o nosso. Mas, a partir do momento em que ele se torna a coisa mais importante, a vocação murcha. Nunca mexa no dinheiro da igreja. Tenha sempre um tesoureiro de confiança ou uma comissão financeira que controle as entradas, as saídas e que pague seu salário. Viva de maneira honesta, sem dar motivos a falatórios.

Pastorado também é arte. Use sempre a criatividade nas mensagens, estudos, aconselhamentos, administração. A tentação pela mesmice é tremenda. É uma tendência humana e, dependendo de onde você vai pastorear, uma força muito grande.

Porém, apesar de ser arte, pastorado não é circo. Púlpito não é picadeiro e a igreja não é o respeitável público. Sempre que possível, use o humor como ferramenta pedagógica. Mas tome cuidado para não se transformar em um palhaço.

Pastorado também não é entretenimento. Silvio Santos funciona bem na TV, nunca num púlpito. A função do pastor não é animar o povo. A função do pastor é falar aquilo que Deus quer dizer à igreja. Pastor não tem que entregar mensagem que faz o povo se sentir levinho. Pastor tem que entregar mensagem que estimule à santidade e a um maior comprometimento com o Senhor. Pastor não pode ser um entertainer, assim como Fausto Silva não pode ser um profeta.

Cuide de sua saúde. Nunca permita que o pastorado se torne um fardo de chumbo fundido, impossível de se levar. A pressão é muita, a solidão também. Mas não deixe que o stress acabe com você. Sempre tenha em mente o seguinte: o pastor é passageiro na igreja, não importa o tempo em que ele permanecer à frente dela. Mas a pessoa que exerce o pastorado precisa se manter bem para Deus, para si, para a família e para a própria igreja.

Neste quesito, não se engane: existem vampiros de almas nas igrejas. A Bíblia os chama de joio e filhos de Belial. E são mais freqüentes do que se imagina. E, para piorar, muitos estão em posições-chave. Eles farão de tudo para destruir sua vida e seu ministério, e isso em nome de Deus. Farão ilações, promoverão discórdias, pregarão calúnias e injúrias. Você não será o primeiro e nem o último a sofrer na mão desses filhos de satanás. Sim, porque é isso que são: filhos do diabo dentro da família de Deus. E geralmente se mostram com maior aparência religiosa e jeito piedoso. Mas é só casca.

Nunca permita que sua esposa e seus filhos fiquem desvalorizados. Não é nada bonito, heróico ou cristão negligenciar a família para cuidar da igreja. Pelo contrário, isso vai contra o espírito das Escrituras. Quem é, afinal de contas, que agüenta suas crises de mau humor, úlceras nervosas e tristezas? Com certeza, não é o presbítero, o diácono ou o dirigente de louvor. Não são eles que dormem com você todos os dias. E nem são eles que prometeram andar com você na saúde, na doença, etc., etc. Você sabe o resto.

Cuidando da família, você também se previne contra as tentações de ordem sexual. Mesmo que você se pareça com o Tiririca num dia ruim, você representa o poder. E o poder sempre é afrodisíaco. Nas igrejas, há mulheres mal-resolvidas sexual e emocionalmente que começam a fantasiar com esse poder ao lado delas. Fuja disso!

Por fim, tenha sempre amizades com quem você possa contar e para quem você possa abrir seu coração. Pastor também precisa ser pastoreado. De preferência, amizades de outra igreja, ou mesmo de outra denominação. Tudo o que você disser será usado contra você no tribunal, já diziam alguns enlatados estadunidenses. Alguns traíras travestidos de colegas de ministério copiam fielmente esses dizeres.


Autor: Rodrigo de Lima Ferreira - rev. Digão - casado, duas filhas, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil desde 1997. Graduado em teologia e mestre em missões urbanas pela FTSA, hoje pastoreia a IPI de Rolim de Moura, RO.

Neuroses Eclesiásticas (continuacao 2)

É verdade que entre os irmãos neopentecostais as pregações têm algumas características próprias, criando um clima parecido com o do Êxodo, em que Israel saiu do Egito e está a caminho de tomar posse da Terra Prometida. Mas o efeito sobre a audiência, apesar das grandes diferenças externas, internamente é semelhante: os irmãos neopentecostais são compelidos a virem à frente receber uma unção do pastor/pregador para que sua vida melhore (até o domingo seguinte, quando o procedimento será repetido); já os pentecostais e tradicionais saem do culto compenetrados com alguma virtude que ainda lhes falta.

Voltando à figura do estádio de futebol: os pastores sabem que esse jogo não é apenas para os 22 em campo e não se conformam com a falta de participação da audiência. Essa frustração com a igreja transparece em muitas pregações.

As frases mais ouvidas são de necessidade de compromisso, de seriedade, de obediência (às vezes em troca de proteção ou bênção). O sentimento transmitido é que Deus lá do alto está insatisfeito com você; você precisa se dedicar mais, ou ler mais a Bíblia, ou orar mais; ou evangelizar mais; ou jejuar, ou combater mais o pecado; etc., etc.

Até coisas prazerosas foram transformadas em dever. Amar aos irmãos, ter comunhão com Deus, ajudar a diminuir sofrimentos dos outros, tudo é lido e ouvido sob a ótica do dever, do mandamento a ser obedecido. Recentemente examinei a revista de Escola Dominical de uma grande denominação evangélica. Fiquei impressionado como tudo o que estava escrito no trecho bíblico estudado (além de muita coisa que nem estava no texto) era transmitido como se fosse o 11o. e o 12o.mandamentos.

Provavelmente aqui estamos em contato com uma importante fonte de nossos problemas. Quem atendeu ao apelo que dizia “Vinde a mim, vós que estais cansados e sobrecarregados, e achareis descanso para vossas almas”, agora só ouve mensagens (pregadas em nome do mesmo Deus) que exigem mais empenho, mais engajamento, mais esforço... Cadê o descanso prometido?

No meio de tantas cobranças, ainda somos levados a cantar “Satisfação é ter a Cristo, não há maior prazer já visto” (ou versões mais modernas da mesma mensagem). E ainda insistem para cantarmos com entusiasmo! Isso não pode ser saudável...

Aproveitemos e examinemos um pouco também dessa área das nossas igrejas:

3. O Clima do Louvor e Adoração

Também aqui encontraremos, dito de forma simplificada, pelo menos dois formatos diferenciados (vejam novamente nossa “capacidade” de nos dividirmos): o formato “tradicional” e o “avivado” ou pentecostal. E tentando ficar no meio do caminho, algumas igrejas “modernas”, mais tradicionais na teologia, porém informais no culto.

No formato tradicional, o louvor em nossos cultos é utilizado para a transmissão de mensagens. É a forma musicada de expressarmos as mesmas coisas que são pregadas, uma espécie de continuação (ou complemento) da pregação falada. Os que tocam e cantam sentem que estão fazendo “a obra do Senhor”, e se dedicam - às vezes dramaticamente - a fazê-lo.

O canto congregacional também é um complemento da mensagem pregada, com os hinos escolhidos do hinário daquela denominação, de forma a trazer mensagem coerente com o que estiver sendo dito no culto. E todas partes musicadas são previamente programadas, com raras exceções. Para os mais jovens, cânticos mais recentes com letra projetada em tela e instrumentos eletrônicos; para a geração dos pais e avôs, hinos acompanhados ao piano ou órgão.

Com o passar dos anos, o entusiasmo pelos cânticos diminui, possivelmente pela mesmice.

Mais um episódio desta reflexão, que pode escandalizar alguns, mas, se recebido como uma reflexão útil para analisar nossas práticas mecanicistas, pode gerar um belo fruto: liberdade verdadeira. Acompanhe os posts antigos, pelos links abaixo, caso não lembre das últimas neuroses.

No formato avivado, mais comum no meio pentecostal, existe um “momento de louvor” de longa duração (geralmente uma hora inteira). Ele tem uma finalidade diferente: servir de “desafogo” das tensões; a palavra de ordem é “celebração”. O canto e o acompanhamento musical são geralmente ensaiados e performados por um grupo grande, que, escorado na amplificação do som, faz com que a música e as canções “encham” o ambiente, enlevando o público presente (ao mesmo tempo em que afasta e irrita os vizinhos...).

Assim o povo, sempre em pé, é levado a sentir emoções através da música, praticamente da mesma forma que as grandes bandas de rock secular procedem em seus shows. Na igreja, porém, são inspirados sentimentos de pertencer a Deus e a Sua família, sentimentos de alegria e participação na glória vitoriosa de Deus. O altíssimo volume da música, aliado aos comentários incentivadores dos ministrantes, dirige esse “sentimento coletivo”. E a insensibilidade para com os vizinhos fica escancarada, no máximo disfarçada de “querer encher a cidade com nossas verdades”, mas na prática está claro que não nos interessamos por eles como pessoas.

Nesses cultos, o louvor (freqüentemente confundido com adoração) tem um sentido próprio, uma unidade fechada em si mesma, independente também da pregação que o sucederá. É como se Deus fosse transmitir duas mensagens por culto (e ainda uma terceira, em caso de haver testemunhos pessoais), sem falar da hora da contribuição financeira. Mas um traço é comum em todos os lugares que praticam esse estilo de louvor: há pouco ou nenhum lugar para contrição e tristeza. A impressão, praticamente se contrapondo às mensagens pregadas, é que Deus sempre espera que estejamos alegres, domingo após domingo.

Essa “injeção de ânimo” ajuda e abençoa a muitos crentes que por ela esperam. Mas com o tempo, como com qualquer remédio ou droga de uso muito repetido, muitas pessoas vão percebendo que seus estados de espírito “reais” não são bem-vindos. E a decepção piora as coisas porque, ao perceber essa menor mobilização da platéia, o dirigente do louvor lançará mão de recursos tais como: “levante-se, abrace seu irmão ao lado e diga: Deus te ama”.

Naturalmente o dirigente tem a melhor das intenções, mas ele está manipulando a congregação, e se deixando guiar pelos seus próprios sentimentos e limitações (no caso deste exemplo, provavelmente será a sua necessidade pessoal de ver seu trabalho fazendo todo mundo feliz e se abraçando). Como conseqüência, é encorajada uma artificialidade dos relacionamentos, e o aspecto exterior (comportamento) substitui o interior (coração). Por mais que cantemos e repitamos a frase bíblica, não estaremos adorando “em espírito e em verdade”.

Freqüentando um ambiente assim enquanto vivem sua vida cotidiana, como estará o íntimo dos cristãos?

4. O clima no coração dos cristãos

Convido você, leitor e leitora, a olhar para dentro de si mesmo, até para ver se minha observação coincide com a sua:

Imagine Deus olhando para você agora (experimente fechar os olhos por um instante) Qual seria a expressão do rosto dEle? Ao olhar para você, Deus parece feliz, sério ou triste?

Como na verdade não vemos a face de Deus, podemos dizer que nossa imaginação é uma boa medida de projeção da nossa imagem de Deus. Ou do “nosso Deus”, por assim dizer, que fomos criando e internalizando conforme vivemos no ambiente da igreja e da família.

Outra pergunta que pode nos ajudar: qual é a sua principal preocupação perante Deus? Ao estar consciente da presença de Deus, do que você lembra? Que tipo de oração você faz mais freqüentemente?

Todas essas perguntas geralmente mostram que estamos preocupados em não errar. E que, tal qual nas pregações dominicais, Deus parece sempre insatisfeito, esperando alguma melhoria de nossa parte. Em algumas denominações, esse cuidado em não errar adquire tons mais dramáticos porque, atrás da esquina, ainda nos espreita o terror da perda da salvação.

Nós cristãos, temos medo de errar, de tomar decisões erradas. Nos dedicamos a combater o pecado. Por isso, naturalmente, temos receio de nos envolver com iniciativas de outros grupos, especialmente se forem de fora da igreja. Nossa maior preocupação, nossa maior busca, é por saber “a vontade de Deus”. A supremacia em nosso coração é do DEVER: o que é que eu devo fazer? O que é certo?

Perguntas como “crente pode isso?” ou “É pecado tal coisa?” revelam o mesmo sentimento, e a nossa preocupação mais íntima: temos medo de errar. Por isso, a não ser que tenhamos certeza de que aquilo é a vontade de Deus, melhor não fazer. Certo?

5. A qualidade de nossa membresia - a roda viva

Ao mesmo tempo em que estamos preocupados com não errar, essa pergunta de “o que é que eu devo fazer” encontra resposta rápida na igreja. Parece que, na falta de bons relacionamentos, que dêem prazer simplesmente por estarmos juntos, nos dedicamos a criar várias atividades na igreja, que nos mantenham sempre ocupados e “produtivos”. Assumir cargos na estrutura da igreja é uma velha forma das igrejas tradicionais engajarem alguém. Já as igreja pentecostais multiplicaram o número de cultos, seja no templo, seja nos lares, também como forma de manter participantes um maior número de pessoas.

Na igreja tradicional “precisamos” de pessoas para cantar nos corais, para distribuir folhetos de casa em casa, para dirigir ou auxiliar em diversos departamentos, com atividades no sábado e em todo o domingo. Nas comunidades pentecostais, as pessoas “precisam” comparecer aos cultos quase todos os dias da semana, com destaque para a participação na equipe de louvor. Ambas as igrejas formaram uma espécie de “grade de programação” que precisa ser preenchida (e acompanhada) pelos membros.

É uma espécie de roda-viva, como aqueles moinhos dos tempos antigos, empurrados por animais ou por escravos, em que a pessoa era acorrentada a seu tronco para empurrar sem cessar, e sem poder sair. Geralmente a gente só percebe a loucura desse ativismo quando o vê de fora. Para quem está nos papéis centrais, como os pastores, só dá para pensar na próxima “necessidade” a ser preenchida (precisa alguém para trazer a palavra, alguém para dirigir os cânticos, alguém para dirigir a oração, alguém para dar os avisos, etc, etc, etc,).

Para pessoas que vivem solitárias ou não têm bom relacionamento familiar, a igreja com tantas reuniões acaba até ajudando a suprir a carência de relacionamentos. Mas para aqueles que têm vida em família, a igreja acaba prejudicando a qualidade de relacionamentos, por praticamente não permitir que façam programas entre si (nos sábados, jovens e adolescentes têm atividades; nos domingos, a obrigação é todos estarem na igreja - e novamente divididos por faixa etária).

Quando é que pais e filhos podem passear, ter lazer em conjunto? Durante a semana, quando todos têm escola e trabalho?

Toda essa participação em cultos e atividades é ensinada como sendo “para Deus”. Dedicar seu tempo para Deus (na verdade, “para a igreja”), então, acaba sendo entendido como retirar tempo de convívio com seus familiares, e utilizálo para as atividades da grade de programação da igreja.

É claro que alguma dedicação é positiva, e faz bem para nós próprios também; mas com esse nível de ativismo de nossas igrejas não é de admirar que pouco ouvimos falar de versos da Bíblia tais como I Timóteo 5.8: “Se alguém não cuida dos seus, e especialmente dos da sua família, tem negado a fé, e é pior que um incrédulo”.
Muitas vezes, na ânsia por obedecer e por fazer a vontade de Deus, temos praticado o mesmo pecado que Jesus condenou nos fariseus: em vez de cuidar dos nossos familiares, dedicamos “a Deus” nosso tempo e dinheiro (na verdade, dedicamos à igreja), e descuidamos da família. A começar por nós pastores...

DIAGNÓSTICO TENTATIVO

Depois de termos investigado essas cinco áreas, e especialmente o nosso coração, acredito que podemos tentar um diagnóstico da principal causa de nossos problemas, possivelmente também a causa da crise da igreja.

Dito pura e simplesmente, o mal de que nós cristãos sofremos é o medo. Ou então, para utilizarmos as palavras de João: o sentimento de que “sobre nós permanece a ira de Deus”. Há várias outras opiniões sobre qual seria a necessidade ou a situação da igreja brasileira, e muitas delas são pertinentes.

Uma corrente crescente em nosso meio crê que o problema da igreja é a excessiva facilidade oferecida no cristianismo atual, o foco em bênçãos materiais e outras vantagens e conquistas para esta vida, não havendo mais nenhum resquício do necessário temor de Deus. Eu não discordo desses irmãos, e também penso que muito do que se prega por aí não é o evangelho, mas apenas “marketing” de coisas agradáveis, para “servir ao próprio ventre” e não à cruz de Cristo.

Neste trabalho aqui, porém, estamos procurando outra perspectiva para nossa análise: buscamos o caminho do coração, buscamos entender as motivações que nos levam a fazer, falar, ou a não fazer nem falar. Mais importante do que a obediência é discernir a razão da obediência, ou melhor ainda, o sentimento que nos leva a viver e agir dessa ou daquela forma. Assim, textos como: “Deus ama ao que dá com alegria”, “graças a Deus que obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues” e outros semelhantes são nosso norte neste diagnóstico tentativo.

E nesse diagnóstico o sentimento que mais temos encontrado – em relação a Deus – é o medo. Isso precisa ser trazido à tona e tratado, senão acabará anulando e desqualificando qualquer obediência, a exemplo da igreja de Éfeso nas cartas do Apocalipse: ela tinha muitas obras, muita perseverança e firmeza, mas perdeu o elemento vital, que é o amor a Jesus.

Quem gostou dos excertos publicados, deve procurar o livro do pastor, teólogo e psicólogo Karl Kepler, chamado Neuroses Eclesiásticas e o Evangelho para Crentes.