quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Meus pais - Mario e Dirce Bragança

Meus pais são casados ha 55 anos. Na realidade no próximo dia 5 de novembro vão completar mais um ano de vida conjugal.

Admiro meus pais.

Minha mae, muito dedicada, amorosa e meu pai muito honesto e trabalhador.

Uma boa recordação que tenho da infancia foi nunca ter visto meus pais brigarem ou discutirem. Nunca ouvi um palavrão em casa.

Nós tinhamos bebidas em casa e meu pai apreciava um bom vinho, mas nunca passou da conta. Ele nos ensinou a beber sem nunca exceder. E víamos o seu exemplo, sempre comedido, prudente. Ensinou-nos pelo exemplo. Sábio ensino.

Nós, os filhos, Rosali, eu e Rosane, brigávamos o tempo todo. Briga de crianca.

Depois vieram o Marcos e a Nina, mas eu já estava saindo de casa para a Escola de Cadetes e nao acompanhei muito eles.

Mas nossos pais sempre punham ordem na casa. Se a bronca e as chineladas da mae nao bastassem, o pai podia usar o cinto. E nós morriamos de medo das cintadas.

Mas eles nao eram violentos ou injustos. Só nos disciplinavam. E gracas a Deus fizeram isso. Já agradeci muito a Deus que tive pais que me amaram tanto que decidiram me disciplinar nas coisas que fiz errado.

Nós crianças sempre estavamos perto da mae, é claro.

Nosso pai vinha almoçar em casa (bons tempos) e ao final do dia voltava do trabalho.

Lembro-me dele me contando histórias, dele e minha mae me ensinando a ler antes de entrar na escola.
Uma vez levei uma bronca porque nao conseguia diferenciar as letras e, l e b. Na grafia à mao todas eram parecidas para mim. Mas depois da bronca aprendi.

Minha mae nos cobrava a lição de casa.

Gracas a Deus que encontrei Wania, minha esposa e namorada que tambem cobrava as lições dos nossos filhos.

Meu pai nos pagava, com seu salario suado, boas escolas, que ele mesmo e minha mae nao puderam frequentar. Sempre deram valor a educação.

Meus pais foram bons alunos e chegaram no maximo que pessoas pobres podiam chegar naquela epoca de tao poucas oportunidades de estudo no Brasil. Chegaram a estudar ingles na Cultura Inglesa e ficavam treinando ouvindo os programas em ingles em ondas curtas.

Filhos de duas familias cheias de filhos, tinhamos dezenas de primos e primas nas festas de Natal.

E os encontravamos nas casa de meus avós Guilherme e Erna e da Vovó Ina (Rosalina - meu avo Aprigio faleceu quando meu pai ainda era jovem).

Lembro tambem de meu pai nos contando as historias do Tarzan e nos incentivando a ler e liamos muito em casa. Nas férias me lembro de ler um livro por dia, quando ainda estava no terceiro ano primário. Liamos as colecoes de livros (nao gibis) do Tarzan e do Karl Mai (Winnetou, o Mao de Ferro) e tambem Arsene Lupin, o ladrão de casaca e os livros da coleção Saraiva com clássicos que meu pai colecionava. E liamos tambem gibis, do Superman e Superboy, Tarzan, Tio Patinhas e Mickey.

E eu lia tambem enciclopédias. Amava ler a Tecnirama e depois vinha a Conhecer. Mas nunca tive jeito para a medicina, detestava sangue e injecoes, por isso nao suportava Medicina e Saude.

Uma coisa que nunca esqueci foi quando meu pai folheava uma antiga enciclopédia Trópico e me contou a história da escada de Jacó - uma história bíblica numa enciclopédia! Que bom! Hoje mais de 40 anos depois ainda me lembro dos meus pensamentos naqueles dias. Minha mente voava ao pensar em Jacó usando uma pedra como travesseiro e recebendo uma revelação de Deus.

Nossos pais nos levavam a praia aos domingos. As vezes, num dia da semana, meu pai nos levava tambem a praia para pescar siri, com um puçá.

Ele e meus tios tinham tambem comprado um picaré (rede de 20 metros) e me lembro das noites em que iamos pescar na praia em Santos. Um monte de tios, tias, primos, primas, dividindo peixinhos, siris e todo o mundo levava um pouco de peixe pra casa. Era divertido. Umas duas vezes apareceu um carro da policia para ver que movimento era aquele na praia as dez da noite, todos nós com lampiões e lanternas.

Isso me inspirou mais tarde a comprar uma rede de arrasto quando morei em Pernambuco. Gosto de pescar com rede.

Um dia fomos ao Guaruja, acho que na praia de Pitangueiras. Eu tinha uns cinco anos. Eu estava andando no jardim, quando resolvi dar um chute num montinho de terra.
Era um formigueiro. Fui atacado pelas formigas indiferentes aos meus berros. Meu pai me pegou no colo e me levou na agua salgada. As formigas me largaram. Nunca me esqueci que ele me salvou.

E quantas vezes meus pais me ajudaram, me aconselhando, me ajudando em inúmeras circunstancias.

Apesar disso tudo sempre me lembrei de meu pai como um homem calado. Ele falava pouco. E herdei dele esse temperamento tambem.

Ao longo dos anos, fui sendo transformado pelo Evangelho e fiquei mais expansivo, mais falador. Mas isso porque tenho algo para falar. De mim mesmo, continuo o mesmo calado por dentro de sempre.

Quando meus pais tinham uns 48 anos de casados, nós morávamos em Jundiai e eu queria de alguma forma honrar meus pais. Na próxima semana ia ser o Dia dos Pais e eu nao sabia o que fazer.

Eu havia feito um curso ótimo chamado Veredas Antigas da Universidade da Família (www.udf.org.br) e tinha me dado conta de duas coisas:
  • Honrar os pais é uma coisa muito boa de se fazer (a Biblia diz: honra a teu pai e a tua mae...).
  • Eu tinha dificuldade de conversar com meu pai pois éramos muito calados.
Meus pais apareceram em casa naquela semana e a unica coisa que me ocorreu foi dizer ao meu pai:

Vou lhe escrever um e-mail esta semana.

Eu podia ao menos dar um presente de Dia dos Pais mas nao pensei nisso na hora.

E passei aquela semana tentando escrever um e-mail para dizer ao meu pai como ele era importante para mim. Nao escrevi para minha mae porque achei que ela sabia como ela era importante pra mim, pois normalmente os filhos falam mais com a mae do que com o pai.

Quando comecei a escrever no meu potente 486 com 1 Gigabyte de Disco (rsrs), meus filhos iam ver o que eu estava fazendo. Eu estava emocionado e as vezes as lagrimas rolavam.

Eram tantas lembrancas. Pedi para eles me deixarem escrever e depois poderiam ler a vontade.
Infelizmente perdi aquele e-mail, mas ainda me lembro de algumas palavras pois foi algo muito importante para mim.
Queria repetir o que escrevi naquele dia - ainda vale hoje:

Pai,

agora que eu sou pai, entendo o jeito calado do senhor nos amar.
O senhor nunca deixou faltar nada em casa.
E eu aprendi com o senhor a ser honesto e trabalhador.

Tenho orgulho de dizer que nunca vi uma briga em casa, nunca ouvi uma palavrao em casa, nunca vi meu pai bebado.

Isso para mim é um tesouro.

Alguem escreveu que o maior presente que se pode dar a um filho é amar a mae desse filho e eu tenho visto o senhor amar Mamãe por quase 50 anos (agora ja sao 56 anos) e esse presente é para mim inestimável.

É o maior presente que o senhor poderia me dar.

Naquele e-mail nao escrevi, mas queria hoje dizer a minha mae que ela tem sido como a Bíblia diz a respeito da mulher sábia:

A mulher sábia edifica o seu lar...

Muitas sao as lutas na familia. Mas minha mae foi sabia e edificou o nosso lar.

Minha mae e meu pai sao um exemplo de quem todos podem aprender e de quem nós, filhos, podemos para sempre nos orgulhar.

Eles lutaram e mantiveram seu casamento por mais de 50 anos! Que exemplo para filhos, netos e em breve (se Deus quiser) bisnetos!

Há quase trinta anos atras ouvi a história abaixo (no finalzinho) e a tenho contado em casamentos. Falei no casamento do Jonatas e Noemi, e tambem no casamento do David e Junia.


Foi baseado nessa história que escrevi ao meu pai naquele e-mail:
Na minha opinião, o senhor e mamãe pintaram, com os pincéis da vida, o quadro mais lindo do mundo!

Voces trabalharam a vida toda por amor a nós. Somos muito gratos, apreciamos e reconhecemos o esforco, amor e dedicacao de voces.

Eu enviei aquele e-mail, alguns anos atras com o fundo musical do filme "Ao Mestre com Carinho".

É um lindo filme e a melodia é muito bonita.

Mas eu acho a letra mais linda ainda.

Pois ela fala de um mestre que um dia nós deixamos para tras, da mesma forma que deixamos o nosso lar, os nossos pais e vamos viver a nossa vida.

"E enquanto parto sei que me afasto do meu melhor amigo.
Um amigo que me ensinou a diferenca entre o certo e o errado,
Entre o fraco e o forte.
Isso é tao dificil de aprender.
O que eu poderia lhe dar em troca?

Se você quisesse a lua
Eu tentaria levar as estrelas

Mas eu preferia que voce me deixasse lhe dar o meu coração

Ao mestre, com amor"

Ao meu pai e minha mãe, meus mestres, com amor:
  • Feliz Aniversário, Pai.
  • Feliz 56. Aniversário de Casamento, Papai e Mamãe.
Eu não apenas os amo mas tenho muito orgulho e admiração por vocês.

Mario
_______________________

Assistam o vídeo, escutem a música e leiam as legendas.


A história que eu li:

Um célebre pintor, que tinha realizado vários trabalhos de grande beleza, convenceu-se, certo dia, de que ainda lhe faltava pintar a sua obra prima.
Em sua procura por um motivo, numa poeirenta estrada,encontrou um idoso sacerdote que lhe perguntou para onde se dirigia.
Não sei, respondeu o pintor. Quero pintar a coisa mais bela do mundo. Talvez que o senhor possa me orientar.
É muito simples- disse o sacerdote - Em qualquer igreja ou crença você achará o que procura. A fé é a mais bela coisa do mundo.

Prosseguiu viagem o pintor. Mais tarde, perguntou a uma jovem noiva se sabia qual a coisa mais bela do mundo.
O amor- respondeu ela. - O amor torna os pobres em ricos, suaviza as lágrimas, faz muito do pouco. Sem amor, não há beleza.

Continuou ainda o pintor a sua procura. Um soldado exausto cruzou o seu caminho, e quando o pintor lhe fez a mesma pergunta, respondeu:
A Paz é a mais bela coisa do mundo. A guerra a coisa mais feia. Onde você encontrar a paz, fique certo de que encontrará a beleza.

- Fé, Amor e Paz. Como poderei pintá-las? - pensou tristemente o artista.

Meneando a cabeça desanimado, tomou o rumo de casa.

Ao entrar em sua própria casa, deu com a coisa mais bela do mundo.

Nos olhos dos filhos estava a Fé.
O Amor brilhava no sorriso de sua esposa.
E aqui,em seu lar, havia a Paz de que lhe falara o soldado.

Realizou assim o pintor o quadro "A coisa mais bela do mundo". E, terminando-o, chamou-lhe "lar".


Na minha opinião, o senhor e mamãe pintaram, com os pincéis da vida, o quadro mais lindo do mundo!


2 comentários:

Caminhando Juntos disse...

Amado de meu Amado Jesus
Me sinto previlegiado de conhecê-lo e de tê-lo como amigo. Infelizmente, digo isto porque poderia ser diferente, mas a verdade é que nos dias atuais "Homens de Honra", Homens de Valor", no sentido Bíblico, como o irmão, que tanto necessita nosso Senhor, estão em "extinção".
Oro para que vidas tão preciosas como a sua e de sua família continuem sendo usadas no poder do Senhor neste país ou em qualquer outro que Ele vos levar.
Que o´"óleo fresco" do Espírito cubra sua mente e coração.
O Senhor é contigo "Homem de Honra"
gde abraço
Paz!
MOACIR

Anne disse...

Olá Mário, não conhecia o seu blog ainda e achei lindo este texto sobre seus pais. Realmente nós passamos a entender muito mais nossos pais quando recebemos de Deus a herança dos filhos. Pena que não pude conhecê-los melhor no casamento da Junia, aquele dia foi muito cheio de emoções... e aproveito para dizer que foi linda a cerimônia.